sábado, 2 de outubro de 2010

Sou chique e dou vexames!

Estava hoje me lembrando de alguns dos livros que marcaram minha vida e, como uma pessoa que implora por atenção, me saltou na mente um livrinho bastante sui generis, assim caracterizado por eu não ter conseguido encontrar outra palavra que o definisse corretamente ou, pelo menos, que desse a impressão mais próxima.
O tal livrinho intitula-se "Ame e dê vexame", do Roberto Freire, e trata, em sua primeira parte, de explicações acerca do termo 'amor anarquista', bem como do repúdio às imposições do sistema capitalista burguês ao homem, principalmente ao que concerne às formas de amar.
O amor anarquista seria um amor sem regras. Seu objetivo, nas próprias palavras do autor,  seria "alcançar essa leveza, essa clareza, essa pureza e essa sabedoria infantis no amor", que teriam sido usurpadas pelo sistema burguês. O amor burguês não é lúdico, não permite brincar com os próprios desejos, sentimentos
e emoções e faz com estes sejam utilizados como instrumentos dos mecanismos de poder autoritário na reprodução e na perpetuação da relação dominador/dominado.
O autor mostra-se contra as relações monogâmicas( autenticamente burguesas), pois estas seriam uma  espécie de prisão para ambas as pessoas, que, mesmo depois de deixarem de amar o parceiro, teriam de continuar fiéis e numa relação tão massante. O ciúme e a fidelidade seriam, assim, instrumentos de controle por parte do mundo burguês.
Dessa forma, qual seria a relação ideal? A relação ideal seria aquela que permitisse a livre concorrência, ou seja, eu estou contigo e você está comigo, mas ambos somos livres para estarmos com outras pessoas que nos atraiam e que nos provoquem amor. Se no final dessas outras relações você voltar para mim, tudo bem, nós realmente nos amamos e seguiremos juntos. Mas, se você quiser prosseguir com a outra pessoa, devo aceitar, porque sou anarquista, perdi a disputa e, mesmo amando você, devo te deixar livre. A mim,  só me resta procurar outra pessoa que ame também como eu , e esse eterno buscar é definido como "fascinante, assustador, maravilhoso, doloroso, prazeroso, novo, imprevisível, incontrolável, rico, poético, maluco, romântico, caótico e aventureiro”
O amor anarquista é essencialmente isso: liberdade para agir e querer.
Na segunda parte, Roberto Freire conta suas situações vexatórias, inclusive um fato curiosíssimo em que, em uma apresentação de Marília Pêra num teatro, ele, grande admirador da atriz, gritou a plenos pulmões, da platéia: "Marília, eu te amo!". {Não vou contar aqui os inúmeros outros casos, porque perderia a graça!}
Enfim, esse livro é um prato cheio para quem está naquela fase de revolta e contestação, pois nos induz a rever nossos conceitos e as regras sociais que seguimos.
Confesso que, inicialmente, fiquei bastante empolgada com essa ídéia do amor anarquista, mas, com o tempo, fui vendo que, pelo menos para a minha pessoa, ela é bastante utópica. Sou uma garota ciumenta e que preza pela fidelidade em qualquer tipo de relação. Isso são valores burgueses??? Talvez sim. Mas, para mim, a fidelidade  é uma prova de caráter e respeito em relação ao outro( aliás, Roberto Freire diz ter receio dessas pessoas ditas com caráter, sempre honestas, que nunca mudam...E que esse sentimento de respeito e de culpa- evitando-se o sofrimento alheio- também é algo imposto pelo sistema burguês). Acredito ser impossível viver dessa forma anárquica, porque, primeiramente, causaria grande sofrimento para quem perde um amor e, então, quem ,conscientemente, continua numa vida que só traz sofrimento? Além disso, no meu modo de pensar, se você ama alguém e está com esse alguém, você não tem necessidade de buscar qualquer coisa que seja em outra pessoa.{e isso eu sei que muitos homens não seguem!}
Quem pensou como eu, agora poderia estar se perguntando se, nos mundos de hoje, aqueles que traem seus parceiros podem ser chamados de anarquistas. Graças a Deus, nem Roberto Freire concordaria com isso, pois, para haver anarquismo, é preciso o consentimento das duas partes( mais uma vez, repito: quem vai consentir que seu parceiro traia?). No meu ponto de vista, quem trai seu parceiro é OUTRA coisa...
Apesar de todas essas minhas críticas, o livro deixou em mim uma mensagem muito importante e que está escrita em seu próprio título: "AME E DÊ VEXAME!". Se você acredita que ama alguém, diga, grite ao mundo inteiro,faça espetáculos, faça loucuras, dê vexame! Dar vexames, no começo, pode parecer passar vergonha, mas depois, mesmo que você seja chamado de louco(a), você será visto(a) como corajoso(a). Ah, não se esqueça também de que as concepções mudam de pessoa para pessoa e, se alguém te chamar de louco(a), diga "Depende do seu ponto de vista..."


 

2 comentários:

  1. Hmmm... não sei por que... mas essa história de amor anarquista segundo Roberto Freire deve ter te tocado em m ponto bem sensível para você está se lembrando agora.
    Algo que esteja acontecendo atualmente... talvez...
    Bem. A monogamia é atacada por todos os lados "literalmente" é associada a burguesia por que no surgimento desta útima, um parceiro era consderado "propriedade" do outro. Homens e mlheres são tão diferentes, e têm desejos tão incontroláveis, que é de se espantar que um dia decidam viverem juntos até o fim...
    Mas vale lembrar que casamento, monogamia, união estável, ensinam características aos participates que eles nunca aprenderiam solteiros.
    Quanto a "dar vexame". Isso eu jpa não posso opniar, as posso opnar quanto ao texto, que ficou ótimo! Se tiver mais livros a serem lembrados... compartilha aí vai... :)

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  2. se vc soubesse o contexto de minha vida concordaria com minha simples conclusao "todos estao corretos, inclusive eu".

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